Milhares marcham em Belém pelo clima, enquanto negociações na COP30 estão paralisadas
Dezenas de milhares de manifestantes, incluindo muitos indígenas, marcharam neste sábado (15) em Belém para "pressionar" os negociadores da COP30 a tomarem medidas urgentes contra o aquecimento global, como preservar a Amazônia e abandonar os combustíveis fósseis.
O governo brasileiro, anfitrião da conferência da ONU, que acontece na capital do Pará, continua em consultas com as delegações para tentar destravar temas de discórdia, como quem deve pagar a conta da crise climática.
A marcha partiu de um mercado local e chegou até um ponto próximo ao Parque da Cidade, sede da COP30 e protegido neste sábado por dezenas de militares e barreiras com grades.
Os organizadores estimaram em "50.000" o número de manifestantes.
"A gente tá aqui tentando fazer pressão para que não só essas promessas feitas pelos países sejam cumpridas, mas como também a gente não possa aceitar o retrocesso" na luta climática, disse à AFP a ativista brasileira Txai Suruí, de 28 anos, o rosto visível do movimento indígena nas últimas COPs.
- Enterro simbólico dos combustíveis fósseis -
Os lemas ambientalistas se misturavam com ritmos locais como o Brega, tocando a todo o volume nos alto-falantes.
Alguns manifestantes carregaram três grandes caixões para "enterrar" simbolicamente o petróleo, o gás e o carvão.
Com grande maioria brasileira e alguns estrangeiros, o movimento ambientalista convocou uma participação em massa, depois que nas últimas três COPs, realizadas no Egito, nos Emirados Árabes Unidos e no Azerbaijão, nenhuma ONG considerou seguro ir às ruas.
Muito presentes na marcha, alguns portando lanças e arcos e flechas, os povos indígenas da Amazônia foram protagonistas da primeira semana da COP após terem enfrentado, na terça-feira, as forças de segurança que protegiam a zona restrita de negociações.
"Precisamos de mais representantes indígenas dentro da COP para defender nossos direitos", disse à AFP Benedito Huni Kuin, de 50 anos, do povo indígena homônimo no Acre. "Estamos vivendo um massacre com a nossa floresta, que está sendo destruída."
Os povos amazônicos pedem atenção a problemas históricos como a preservação de seus territórios.
Também esteve presente na marcha a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, que mostrou reservas sobre um megaprojeto do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a exploração de petróleo em águas profundas na Margem Equatorial, próximo à foz do rio Amazonas.
"Apesar dos nossos desafios e contradições, nós temos que fazer o mapa do caminho" para abandonar os combustíveis fósseis, disse a ministra, em apoio a uma ideia de Lula na COP, e incentivada por outros países como França e Colômbia.
A secretária de Estado para o Clima do Reino Unido, Katie White, declarou à AFP que seu país "gostaria de ver um resultado" a respeito dessa questão.
Contudo, esses países deverão fazer frente à oposição de nações petroleiras, como a Arábia Saudita.
- Deveres para segunda-feira -
Após a primeira semana, não houve avanços sobre esses pontos — financiamento climático, metas de redução de emissões de gases de efeito estufa e barreiras comerciais — e as consultas continuam.
"Os desafios são muito importantes para permitir que táticas de procedimento ou discussões paralisadas obstaculizem os avanços", advertiu o presidente da COP30, o diplomata brasileiro André Corrêa do Lago.
Ele se resignou a anunciar a publicação de uma "nota" para o domingo que apenas resumirá as posições de cada um, com o objetivo de "estruturar as conversas": uma espécie de lista de deveres para os ministros que chegarão a Belém na segunda-feira, para os últimos cinco dias da COP, que acontece pela primeira vez com a ausência dos Estados Unidos.
L.Horn--BVZ