Sheinbaum dedica 'Grito da Independência' do México aos migrantes e às mulheres
Em meio às tensões com os Estados Unidos, a presidente Claudia Sheinbaum celebrou um México "livre, independente e soberano" e saudou os migrantes e as mulheres no primeiro Grito de Independência liderado por uma chefe de Estado mulher na história do país.
"Viva México livre, independente e soberano (...) vivam nossas irmãs e irmãos migrantes", afirmou Sheinbaum da varanda presidencial em um gesto dedicado aos quase de 12 milhões de mexicanos que vivem nos Estados Unidos.
Do grupo, quase 75.000 retornaram voluntariamente desde a volta à Casa Branca do presidente Donald Trump, que iniciou operações para deter migrantes sem documentos. Durante as ações, um mexicano morreu em julho devido aos ferimentos que sofreu ao tentar fugir da operação.
A primeira mulher presidente do México deixou sua marca no "Grito de Dolores", que encena diante de milhares de pessoas o chamado à insurreição lançado pelo padre Miguel Hidalgo em 1810.
A tradição, monopolizada pelos homens por mais de um século, foi renovada por Sheinbaum com o clamor "Vivam as mulheres indígenas".
A governante de esquerda, que venceu por ampla margem as eleições de 2024 e tem uma aprovação de 70%, também lembrou quatro heroínas da Independência, um número maior que o habitual por seus predecessores, e recebeu a bandeira nacional das mãos de uma escolta composta exclusivamente por cadetes mulheres.
Mas o evento não escapou da realidade mexicana. O governador do estado de Sinaloa (noroeste) e os prefeitos de quatro municípios de Michoacán (oeste) cancelaram as celebrações locais devido ao risco de violência.
Desde que assumiu o poder em 1º de outubro de 2024, Sheinbaum se apresenta como "presidenta com 'a'" e como "comandanta" das Forças Armadas, às quais passa revistas usando roupas com bordados indígenas coloridos. Os oficiais militares também a chamam assim.
A apresentação desta física de 63 anos para agitar a bandeira nacional e tocar um sino antigo para quem estiver no Zócalo — principal praça pública do país — não é apenas um fato histórico, mas carregado de simbolismo.
"Abre um espaço que estava tacitamente vedado para as mulheres", disse o historiador mexicano Lorenzo Meyer à AFP.
Além disso, ratifica que a sociedade mexicana finalmente aceitou que nas cúpulas do poder político "o gênero não importa", destacou.
- Origem disputada -
Sheinbaum seguiu os passos Hidalgo, "pai da pátria", cujo chamado foi a faísca do processo que levou à independência da então Nova Espanha em 1821.
Segundo as crônicas da época, militares, advogados, comerciantes e religiosos se reuniam clandestinamente para planejar uma revolta contra a Coroa.
Mas, ao serem descobertos durante a madrugada, Hidalgo pegou um estandarte da Virgem de Guadalupe e, do átrio da igreja de Dolores, em Guanajuato (centro), tocou o sino para chamar à sublevação.
"Viva nossa Santíssima Mãe de Guadalupe! Viva Fernando VII e morra o mau governo!", exclamou o padre diante de uma multidão em defesa do rei espanhol, derrubado pela invasão napoleônica da Espanha.
Hidalgo comandou a luta até sua execução por fuzilamento em 1811. Cortaram sua cabeça para pendurá-la, junto com as de outros três independentistas, na Alhóndiga de Granaditas, Guanajuato.
Apesar da aceitação deste relato, a origem do "Grito" é imprecisa. O historiador Meyer assegura que, aparentemente, foi promovido por outro invasor: Maximiliano de Habsburgo, imposto como imperador do México (1864-1867) durante a intervenção francesa.
"Maximiliano, se não inventou a comemoração, pelo menos a consolidou", disse Meyer.
Porfirio Díaz, que governou por três décadas até a Revolução de 1910, institucionalizou o ato na noite de 15 de setembro de 1896 para que coincidisse com seu aniversário. Com esse objetivo, ele transferiu para a capital o sino que Sheinbaum fará ressoar.
O.Pohl--BVZ