

Fome nunca deve ser usada 'como arma de guerra', afirma chefe da ONU
A fome nunca deve ser utilizada "como arma de guerra", afirmou, nesta segunda-feira (28), o secretário-geral da ONU, António Guterres, referindo-se, em particular, aos conflitos atuais em Gaza e no Sudão.
"Os conflitos seguem propagando a fome em Gaza, no Sudão e em outros lugares. A fome alimenta a instabilidade e compromete a paz. Nunca devemos aceitar a fome como arma de guerra", declarou Guterres em uma videoconferência na Cúpula das Nações Unidas sobre os Sistemas Alimentares (UNFSS), realizada na Etiópia.
Esta reunião, coorganizada por Etiópia e Itália, acontece em um contexto de crescente pressão internacional sobre Israel, especialmente em relação ao desastre humanitário em Gaza e aos cortes drásticos na ajuda humanitária.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou, no domingo (27), que a desnutrição no território palestino está alcançando "níveis alarmantes", com um "pico de mortes em julho".
O Ministério da Saúde do Hamas declarou, nesta segunda-feira, que cinco pessoas morreram de desnutrição em 24 horas, o que aumenta para 147 o número total de mortes por desnutrição desde o início da guerra.
Um bloqueio total imposto em março por Israel em Gaza e muito parcialmente aliviado no final de maio, provocou uma grave escassez de alimentos, medicamentos e de combustíveis. Cerca de 2,4 milhões de palestinos estão sitiados desde o início da guerra, que causou cerca de 60 mil mortes em Gaza, em sua maioria civis, segundo dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.
A guerra foi desencadeada por um ataque do movimento islamista palestino Hamas em 7 de outubro de 2023 no território israelense. Israel acusa o Hamas de explorar o sofrimento da população civil, incluindo o roubo de alimentos, o que o movimento nega.
Por sua vez, o Sudão está imerso desde abril de 2023 em uma guerra civil que envolve as forças do chefe do Exército, Abdel Fatah al Burhan, com as de seu antigo adjunto Mohamed Hamdan Daglo, que lidera as FAR, um grupo paramilitar.
O conflito neste país do nordeste da África deixou dezenas de milhares de mortos, obrigou 14 milhões de sudaneses a abandonarem suas casas e criou "a pior crise humanitária do mundo", segundo a ONU.
- Milhões passam fome -
A cúpula ocorre no contexto dos cortes de ajuda por parte dos Estados Unidos e outras nações ocidentais que afetam gravemente grande parte do mundo em desenvolvimento.
O presidente da Comissão da União Africana (UA), Mahamoud Ali Youssouf, afirmou que a insegurança alimentar está aumentando em toda a África e culpou por essa situação os "choques climáticos, os conflitos e as perturbações econômicas".
"Neste momento crucial, quantas crianças e mães no continente estão dormindo com fome? Milhões, certamente. A urgência da situação está fora de qualquer dúvida", disse.
Youssouf assegurou que mais de 280 milhões de africanos estão desnutridos, com "quase 3,4 milhões (...) à beira da fome". Aproximadamente 10 milhões de pessoas foram deslocadas devido à seca, a enchentes e aos ciclones, acrescentou.
Youssouf instou aos Estados-membros da UA a dedicar 10% de seu Produto Interno Bruto à agricultura para ajudar a fomentar "a resiliência nutricional".
"Mas não podemos fazê-lo sozinhos. Pedimos aos nossos parceiros que cumpram os seus compromissos de financiar e apoiar as soluções africanas", disse.
M.Kraus--BVZ