Berliner Volks-Zeitung - David Pablos revela o lado mais terno dos 'caminhoneiros' do México no Festival de Veneza

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David Pablos revela o lado mais terno dos 'caminhoneiros' do México no Festival de Veneza
David Pablos revela o lado mais terno dos 'caminhoneiros' do México no Festival de Veneza / foto: Stefano RELLANDINI - AFP

David Pablos revela o lado mais terno dos 'caminhoneiros' do México no Festival de Veneza

O cineasta mexicano David Pablos apresenta, nesta quinta-feira (4), no 82º Festival de Veneza "En el Camino", uma história de amor marcada pela violência que assola o norte do México entre um jovem que foge de seu passado e um caminhoneiro que o ajuda.

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"O filme nasce da busca pelo pai", com um "jovem que quer curar uma ferida pessoal profunda através de encontros sexuais em cachimbas", nas áreas onde os caminhoneiros descansam no México, explica David Pablos durante uma entrevista à AFP no Lido de Veneza.

"En el Camino" compete na seção Horizontes do Festival de Veneza, dedicada a novas tendências. É protagonizado por Osvaldo Sánchez (Muñeco) e por Víctor Prieto, que interpreta Veneno.

Ambientada no perigoso norte do México, foi filmada majoritariamente na Cidade Juarez e seus arredores.

"O diabo sai à noite", conta Pablos sobre o que os policiais da região o alertaram. Devido à insegurança, as filmagens, que duraram seis semanas, "foram complicadas", admite o diretor. Tanto que foram abaladas por um sequestro, o de um membro da equipe que ficou um dia inteiro retido. "Eles nos ameaçaram, os sicários nos ligaram", diz.

"Era necessário estar o tempo todo sob proteção, da polícia ou da guarda nacional", afirma o diretor, que ainda assim relata uma filmagem "linda" em que "houve uma grande conexão entre toda a equipe".

Para o filme, o cineasta de 41 anos, indicado em festivais como Cannes, San Sebastián e Estocolmo, queria atores que conhecessem o terreno.

No caso do personagem de Veneno, que contém uma grande sensibilidade por suas feridas de infância, Pablos explica que precisava de um rapaz "abertamente gay", algo que era difícil de encontrar, pois "pouquíssimos estão em contextos tão pesados, tão inseguros, tão violentos".

- Histórias de violência -

O filme é uma janela para um mundo à parte, o desses nômades capazes de dirigir dias seguidos sem parar. Um pequeno universo onde todos acabam se conhecendo e se cruzando nas "cachimbas" onde param para descansar. Vidas solitárias que alguns enfrentam consumindo drogas.

"Quando começamos isso, comecei a investigar mais, a perguntar aos meus familiares que eram 'caminhoneiros', como tudo funcionava", explica Víctor, que até preparou seu personagem "flertando com senhores, com pessoas maiores que eu, para entender os riscos que [Veneno] enfrentava, o que ele queria".

Osvaldo, ator com 25 anos de experiência, foi ainda mais longe: tirou a licença para dirigir caminhões e trabalhou como "caminhoneiro" durante três semanas.

"Vivi coisas impressionantes. Como ator, precisava descer a esse nível de realidade, a essa crueza", conta o ator.

Mas, segundo os dois protagonistas, aqueles de quem mais aprenderam foram dos moradores locais que participaram do filme.

"Praticamente, na Ciudad Juárez cada pessoa pessoa tem seu próprio filme de violência", comenta Víctor, oriundo desta localidade. "As pessoas vivenciam diariamente casos de violências, maus-tratos por parte de policiais, pessoas, narcotraficantes".

F.Weber--BVZ